Dando continuidade à nossa série que compara a qualidade de vida entre os gigantes norte-americanos, trago hoje outros aspectos fundamentais para quem sonha viver por aqui. São fatores que devem necessariamente estar presentes em uma análise aprofundada, com pesquisas abrangentes, antes de se fazer um complexo movimento de mudança de país, que muda não somente nossa localização geográfica no planeta, mas principalmente nossa forma de viver e perceber o mundo.
Um dos itens mais onerosos de um orçamento familiar – em geral, o mais caro deles -, a moradia é também fundamental na percepção da qualidade de vida das pessoas. Encontrar uma equação com bom custo-benefício nesse item se faz crucial para equilibrar, por um lado, o aspecto financeiro, e por outro, ter conforto adequado para se viver com qualidade.
Meio ambiente é outro fator que, apesar de aparentemente não influir de forma direta na vida pessoal, pois é um conceito macro e portanto diz respeito ao coletivo e a extensas geografias, está intrinsicamente ligado a como nos sentimos em um determinado lugar e, especialmente, qual nossa percepção de pertencimento à essa comunidade onde estamos inseridos. Além de, claro, ter impacto determinante na nossa relação com o meio – tanto ambiental quanto humano – do qual fazemos parte em nossas vidas cotidianas.
Moradia
Da mesma forma que fiz nos episódios anteriores, volto a destacar que aqui farei uma análise geral, tentando pontuar exceções às regras quando possível. Por se tratarem de dois países com dimensões continentais e que, portanto, têm muitas variações de região para região e até mesmo entre cidades relativamente próximas, vou precisar ser mais generalista na análise e decidir “quem ganha” no quesito em uma avaliação ampla, por assim dizer, na média.
Vale pontuar ainda, de antemão, que tanto Canadá quanto os EUA possuem dezenas, possivelmente centenas de cidades com ótimas estruturas e opções para se viver. Analisando dentro do aspecto imobiliário, digamos, assim como na maior parte do mundo, há na América do Norte, visivelmente, uma supervalorização de imóveis – tanto para compra quanto para aluguel – nos principais centros. E os valores ainda sobem mais quando se busca uma localização privilegiada, o que significa, em outras palavras e de forma geral, estar próximo do centro da cidade (onde frequentemente as pessoas trabalham), ou em bairros residenciais que possuam forte infraestrutura comercial e empresas ou indústrias presentes.
É bem verdade que, aqui cabe novo parêntese, a pandemia tem trazido uma nova dinâmica ao mercado em função da redução da necessidade de deslocamento físico para os locais de trabalho, uma vez que o trabalho remoto vem crescendo e se consolidando em vários setores da economia. Mas também é fato que, mesmo após a vacinação da maior parte da população e dessa consolidação do home office, várias outras indústrias e posições voltem a demandar a presença física no local de trabalho, o que deve manter parte das pessoas, no pós-pandemia, tendo que se deslocar novamente para seus trabalhos.
Assim sendo, os preços tanto para se pagar o aluguel quanto as prestações de uma mortgage mensal vão provavelmente seguir sendo pressionados, o que significa que dificilmente diminuirão. Pegando algumas das principais cidades canadenses e americanas, podemos ver que a média tanto para apartamentos de um quanto de dois quartos variam na faixa de 1,2 mil a 2,5 mil dólares, o que pode representar um valor até 70% maior que o salário mínimo atual nos EUA, de US$ 11,00 a hora ou cerca de 1,5 mil dólares mensais bruto. Vale ressaltar que, especialmente nos EUA, a variação é bem grande entre Estados e cidades, principalmente entre os grandes centros urbanos e cidades de menor porte do interior, mesmo quando analisamos a média geral dos preços e não apenas os mais caros e mais baratos das listas.
Ou seja, em termos práticos, para uma pessoa ou uma pequena família (de até quatro membros) conseguir viver confortavelmente em centros como Toronto, Vancouver, Los Angeles, Nova Iorque ou San Francisco, apenas para citar alguns, é necessário uma renda familiar por residência de, no mínimo, dois salários mínimos e meio – algo na faixa dos 4 mil dólares – e, idealmente, três salários mínimos para cima, a depender de quantas pessoas vivam na casa, pois aí entram outros custos (também altos) como alimentação, transporte, e por aí vai.
Indo para o interior ou cidades de menor porte, com até 300 mil habitantes vivendo na região metropolitana, a situação muda sensivelmente de figura. Porque aí vemos uma queda considerável dessa pressão (ou especulação, como preferirem) sobre o mercado imobiliário e, consequentemente, sobre os custos com moradia. Para se ter uma ideia, um apartamento com o mesmo padrão em Toronto e London – cidade de médio porte que fica a cerca de 200 km da capital de Ontario – pode ter uma diferença de até 50% no aluguel. Trocando em miúdos, aquele apê de dois quartos que você pagaria uns 2,3 mil cads em Toronto, sai por 1,5 mil, 1,6 mil cads em London. É uma diferença considerável. Basta dizer que com esses 700, 800 dólares que sobrariam seria possível fazer a compra de mercado do mês para uma família de dois adultos e duas crianças, ou bancar a alimentação e ainda pagar a prestação, seguro e combustível de um carro para um casal, por exemplo.
Portanto, vai aqui uma dica: vale demais pesquisar bastante e considerar fortemente a opção de seguir para uma região de menor porte, onde inclusive há, relativamente, mais oportunidades de emprego na maioria dos casos, além de maiores chances de conquista da tão sonhada residência permanente, pela menor concorrência relativa para os que possuem alto grau de estudo e/ou especialização em determinados setores.
O mesmo fenômeno se verifica nos EUA, com redução de custo para moradia considerável na comparação entre grandes centros e regiões de médio e pequeno porte. Com a diferença de que o vizinho canadense possui um território mais bem distribuído e ocupado pela sua melhor posição geográfica no globo, e assim tem muito mais alternativas espalhadas de norte a sul, leste a oeste do país. Portanto, nos EUA se pode cruzar os aspectos financeiro, imobiliário e de clima para encontrar o melhor custo-benefício que gere o conforto e qualidade de vida buscado. Já no Canadá, que concentra suas principais regiões metropolitanas e a maior parte de sua população no “cinturão” da fronteira com os EUA, as opções são menores que a do seu vizinho. Não poucas, mas substancialmente menores. Dessa forma, eu diria que os EUA vencem nesse quesito, com boa vantagem devido à sua melhor posição e distribuição geográfica e maior gama de opcoes disponiveis.
Meio ambiente
Assim como o quesito segurança, a análise no aspecto ambiental também passa por questões relacionadas não apenas à cultura local, mas especialmente por leis e regulamentações criadas e determinadas por governos. A forma como se percebe e trata os ativos naturais costuma ter origem no debate público junto à sociedade civil, mas termina em decisões tomadas por parlamentos e poderes executivos e judiciários dos países, via de regra.
Bom, dito isso já se pode imaginar a complexidade do tema e tudo que há por trás e ele carrega, né? Mas eu diria que, em linhas gerais e na média dos últimos anos, há um entendimento mais consciente e saudável por parte do Canadá quanto à questão do que dos EUA. É claro que essa é minha visão e percepção sobre o assunto, mas que também se baseia em pesquisas, estudos realizados e divulgados por especialistas no tema também. Vamos à análise então.
Como se trata de um aspecto onde o fator político tem importância preponderante nas diretrizes adotadas por cada país, há uma volatilidade peculiar na avaliação do tratamento que cada nação impõe nas suas políticas públicas e leis que regem a questão ambiental. Fazendo um recorte dos últimos 20 anos, por exemplo, para se ter uma base razoável e não muito ampla de tempo para a avaliação, o Canadá apresentou uma estabilidade maior de orientação para tratar o tema, com regras claras, objetivas e específicas para determinadas questões importantes, inclusive dentro do seu portfolio de ativos explorados comercialmente, em especial de commodities como minério, petróleo e madeira.
Já os EUA oscilaram mais nesse sentido, com muitos debates e conflitos dentro do próprio governo, entre poderes legislativo e executivo, notoriamente, para ajustar ou até mudar legislações e determinadas regras para exploração de recursos naturais, o que trouxe instabilidade jurídica e críticas, tanto internas quanto externas. Inclusive nos últimos anos, a principal potência econômica mundial esteve prestes a deixar alguns dos mais importantes acordos multilaterais ambientais, como o Pacto de Paris e o de Tóquio, em busca de autonomia para agir em função de seus interesses comerciais, sem a necessidade de prestar contas ao resto do mundo sobre suas emissões de carbono ou descarte de resíduos, por exemplo.
Novamente, essas postura e decisões variam muito de acordo com posicionamentos político-ideológicos dos países, e portanto não se trata de uma análise puramente linear e simplista. Mas eu diria que, no recorte das últimas duas décadas, o Canadá tem se comportado de maneira mais responsável e coletiva, buscando convergir necessidades econômicas – especialmente em tempos de pandemia e retração dos mercados – com medidas que impeçam o avanço ou até mesmo diminuam o impacto ambiental de suas atividades. Isso pode ser visto inclusive na consciência coletiva da população canadense, na preocupação da maioria das pessoas em fazer o descarte seletivo e consciente de seus resíduos domésticos, bem como das empresa de estimularem a mesma atitude dos seus empregados, quer seja no ambiente corporativo ou em suas próprias casas.
Assim, por ter uma cultura mais voltada para a protecao ambiental e diversos espacos ainda bastante protegidos bem como multiplos parques inclusive em ambiente urbano no quesito meio ambiente o Canadá acaba se sobressaindo. E você, qual sua opinião a respeito dos tópicos de hoje? Fique à vontade para dividi-la deixando seus comentários!
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Capítulo 2: Educacao e Segurança
Capitulo 3: Clima, economia e mercado de trabalho
Serie: Meias verdades Canadenses:
Capítulo 1: Quem mora no Canadá passa metade do ano congelado/embaixo de neve
Capítulo 2: O Canadá é um país bilingue
Capítulo 3 : O Job Bank canadense tem muitas vagas disponíveis.
Capitulo 5: Vancouver é o Rio de Janeiro do Canadá
Capitulo 6: O Canadá sempre tem vagas disponíveis na área de tecnologia.
Capítulo 7: Qualidade de vida no Canadá é melhor que dos EUA
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